segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Encontro de nossas almas ﻶჱ

Encontro de nossas almas
(Jorge de Azevedo)
Alma danada esta minha
que assim como a sua
parece brincar comigo.
Alma levada esta nossa
que nos faz sonhar e
nos afasta sem piedade.
Alma criança esta minha
que faz dos meus sentimentos
brinquedo e razão de festa;
que baila ao som da canção
entoada enquanto não vejo
sua alma bailando distante.
Alma traquina e tão misteriosa
esta a minha alma,
mesmo sabendo dos meus tormentos
e pesadelos continua transformando
em agonia todas as minhas saudades por voce.
Alma meticulosa esta minha alma,
que se apega a cada pequeno detalhe
lembrando detalhes de sua alma
para transformar em poemas que não declamo,
pois, distante se pôs em defesa, sua alma.
Derrama a chuva sobre os jardins cristalinas
gotas como se fossem lágrimas
caídas dos meus olhos bailando em minha face,
dança sobre as pétalas pequeno pontos
multicoloridos como se fossem minhas angustias.
Ah, alma leviana, esta minha alma
que desencanta minha vida
em todos os lábios não beijados
e segue sonhando pelas vielas
onde almas vestidas de pouca veste
se mostra e convida-me para coitos.
Porque me trouxe, alma minha,
menina para caminhos onde ela
se esconde se a alma dela
mantém-na escondida?
Porque me faz sonhar,
alma minha com os gemidos dela
se portas guardam o perfume
emanado de sua pele na madrugada?
Minha alma é perversa comigo
ao fazer-me dançar danças de orgias
enquanto diviso a foto dela
estampada na tela fria e sem alma
de uma máquina manipulada
pelos sonhos de minha alma.
Vem alma minha, minha amiga,
baila comigo sob a chuva
molhando o jardim
enchendo de poças as ruas asfaltadas;
vem e baila comigo ouvindo "Emmanuelle",
o corpo vestindo gaze transparente
sob olhares cobiçosos e ciumentos.
Dança comigo antes que o sol parta
e a luz de minha vida se extingue
deixando minha alma sem vida,
e sem vida a alma dela,
sem ranços os pensamentos guardados
na ausência dos corpos sem almas.
Onde estão vocês, almas separadas
nascidas não sabemos onde,
morando em endereços desconhecidos?
Onde estão voces que não se encontram
e se lançam sobre o leito de cetim bailando
orgiacamente todos os prazeres?
Talvez estejam almas benditas,
tramando encontros para nossos corpos
em alguma galáxia distante,
iluminada por sóis de tantas formas e cores,
por mentes de tantos predicados
e adjetivos e amores de tantos jeitos e dimensões.
Ah, minha alma arisca e ansiosa,
parte agora ao encontro da alma dela
e conta dos meus apelos e sonhos,
fala dos versos que faço para ela
e das canções que toco e danço
pensando na alma dela distante.
E não encontrando a alma dela
em cada canto que entrar
e buscar volta para mim
e derrama em meu rosto cristais brilhantes
em forma de lágrimas
como se fosse a chuva derramando
vidas sobre jardins
de rosas pálidas e brancas.
Recife, 30 novembro 2010