segunda-feira, 25 de abril de 2011

Sobras de uma Noite ﻶჱﻶ

Sobras de uma noite
(Jorge de Azevedo)
Guardei cada sentimento
Como pedaços de lembranças,
Bem quieto e acomodado
Num canto de meu pensamento
Como se fosse pedaços de panos
Numa gaveta mal arrumada.
E deixei lá por muito tempo
Como se fosse fato esquecido,
Acomodado em cada esquina
De meus sentimentos
Como se fosse palitos de fósforos
Queimados e mal guardados.
Um dia, abri a memória
Como se fosse um arquivo
De computador, e estava lá
Tudo quieto e acomodado,
Como se fosse fraldas
Numa gaveta de cômoda branca
Bem cheirosa e arrumada.
Tirei alguns grãos de poeira
Como se fossem pontos de saudades
E deixei de lado as más lembranças
Como se fossem caroços de uvas
Jogados à esmo, no tempo,
Depois de lambidos e chupados.
Encontrei alguns retratos desbotados,
Guardados ali, quietos e acomodados,
Como se fossem selos ou figurinhas
Dos álbuns colecionados na infância,
E em cada foto quase amarela e sem brilho
Somente o brilho de saudades quase mortas.


Deixei tudo revirado procurando as lembranças,
E quase não encontro os motivos de tanta saudade,
Saudade que adormeceu ali, quieta e acomodada
Pelas farpas de tantos sentimentos não sentidos,
Pelas arestas de tantas dores não chamadas
E tantos desejos sonhados e não vindos.
E mais uma noite passei buscando motivos
Para tanta saudade ardendo em meu peito,
Para tanta dor doendo em minha vida,
Para tanto querer sufocando os meus anseios
E tudo que restou ficou guardado num canto
Como se apenas fosse sobras, de uma noite.
Natal, 1 outubro 2005

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